Local: Chácara do André Bufrem, Palmeira – PR (alto de um morro, com plantação de pinus ainda pouco crescida)
Condições de horizonte:
– Nordeste: poluição luminosa (Palmeira)
– De leste a norte: praticamente livre a partir de 10 graus ou menos
Fase da lua: Nova
Condições meteorológicas:
– Desde o poente até próximo das 23h30m : céu limpo, excepcionalmente contrastante.
– A partir das 23h30m: nevoeiro crescente, com alguns buracos – observação comprometida.
Número de participantes: 4 membros do CACEP
– Guilherme, Lucas, Mário e André (sentimos muito a falta dos outros que costumam participar!)
Instrumentos utilizados:
– Telescópio RFT de 15cm (Elton)
– Telescópio de 15cm (Lucas)
– Luneta (Mário Sérgio)
– Binóculo Tento 20×60 (Guilherme)
– 2 binóculos 9×63 (Lucas e Mário)
– Binóculo Pentax 7×50 (Guilherme)
– Binóculo modelo “bolchevique” 7×50 (Mário)
– Câmara fotográfica Nikon Coolpix 3100 3.2MP (Guilherme)
– Câmara fotográfica antiga MINOLTA 50mm (Lucas)
Veja agora os objetos observados e suas constelações
ASTROS DO SISTEMA SOLAR
– Lua (rente ao horizonte oeste, uma porção mínima iluminada, e a porção escura visível)
– Júpiter, com os satélites Io, Calisto e Europa a oeste, e Ganimedes a leste (19h)
SATÉLITES ARTIFICIAIS
– Flare de Iridium logo após as 18h
– Muitas outras passagens visíveis, inclusive duas em sentidos opostos, que se cruzaram
CONSTELAÇÕES
Graças às excelentes condições de fundo, estrelas de magnitude muito fraca foram facilmente identificadas a olho nu, por exemplo, na configuração das constelações de Coma Berenices, Crater, e Chamaleon. Como exemplo, estão ilustradas a localização de Crater, encaixada entre Corvus e Hydra (a estrela “nu” da Hydra faz um dos vértices do pé da taça), e também as magnitudes das estrelas que compõem a figura.
Localização da Constelação Crater
Ampliação com os valores de magnitude
OBJETOS VISÍVEIS A OLHO NU
A Grande Nuvem de Magalhães (galáxia-anã satélite da Via-Láctea, distante 180 mil anos-luz) estava se ocultando próxima ao horizonte sul-sudoeste, excepcionalmente luminosa contra o céu escuro, com o contorno elíptico quase perfeitamente destacado. Lembrava realmente uma nuvem atmosférica num céu noturno sem vento! Confira abaixo a imagem nuvem vista por um grande telescópio.
Saltavam aos olhos objetos como a nebulosa Eta Carinae, o aglomerado globular Omega Centauri , e os aglomerados abertos mais brilhantes, principalmente M7, em Scorpius. Outra surpresa foi o aspecto da faixa luminosa da Via-Láctea, região do Cruzeiro do Sul, Centauro e Carina, com brilho arrebatador, e muito contraste com as regiões escuras, inclusive a nebulosa do Saco de Carvão. Quanto a esta última, trata-se de uma enorme massa de gás e poeira interestelar, situada apenas a 550 anos-luz de distância da Terra, que tem a propriedade de bloquear grande parte da radiação visível das fontes que estão por trás dela. Estando muito melhor delineada do que de costume, era possível distinguir um apêndice no bordo inferior direito, como num mapa da América do Sul. Esse formato, perfeitamente visível a olho nu pelos 4 participantes, foi depois conferido no programa Starry Night.
A imagem acima dá uma boa ideia do aspecto dessa região.
OBJETOS DE ESPAÇO PROFUNDO OBSERVADOS COM INSTRUMENTOS
Essa descrição dá prioridade aos objetos localizados pela primeira vez em atividades do CACEP, ou aqueles menos explorados em outras oportunidades. Informações sobre o roteiro para localização, magnitude, etc, dos objetos mencionados nos finais da lista, podem ser encontradas nos relatórios das atividades anteriores.
GALÁXIAS
Várias galáxias foram facilmente localizadas, inclusive no binóculo! A riqueza de detalhes apreciável no telescópio do Lucas foi aprimorada pela excelente qualidade da ocular emprestada do Sandro.
M51 (Canes Venatici): Trata-se do famoso “redemoinho”. Leva esse nome por ser uma galáxia espiralada, “vista de cima” por nós, habitantes da Via-Láctea, a 37 milhões de anos-luz de distância. Apesar de ocupar um campo amplo (11×7 arcmin), é raro conseguir boas condições para visualizá-la, pois é especialmente sensível a efeitos da poluição luminosa.
Ainda por cima, na latitude de Curitiba, chega no máximo a 18° acima do horizonte… Tem uma companheira menos brilhante, que interage com ela por gravidade, e que também foi identificada nitidamente no campo do telescópio, com uma separação considerável entre os núcleos (cerca de 5 arcmin). Para se referir ao par, são usadas as designação M51A e M51B, ou NGC 5194 e NGC5195.
O mapa abaixo mostra a localização da M51, pode-se perceber o horizonte norte com o rabo da Ursa Maior como referência (repare a dupla Mizar/Alcor na parte inferior do esquema)
Tome a ponta do rabo (Alkaid, mag 1.9), e procure a estrela de mag 4.6, um grau de separação a oeste (esquerda). Distanciando-se então mais um grau, agora na direção sul (ou seja, para cima), vê-se um trapézio formado por 3 estrelas fracas e essa galáxia, que forma o vértice superior esquerdo. No detalhe abaixo, vê-se também a disposição do par.
Abaixo pode ser conferido também o aspecto do conjunto no campo do telescópio, processado pelo programa Starry Night.
M63 (Canes Venatici): Chamada de “girassol” (provavelmente por lembrar as espirais formadas na disposição das sementes nessa flor), é localizável a partir da estrela alfa (Cor Caroli) da constelação Canes Venatici. Essa estrela tem magnitude 2.9 e está praticamente solitária numa ampla região do céu setentrional. Pode ser facilmente identificada a dez graus ao norte da constelação de Coma Berenices, no vértice de um triângulo isósceles invertido que tem como base as estrelas Denebola (beta Leonis) e Arcturus (alfa Bootes), conforme é mostrado na figura abaixo.
Partindo agora de Cor Caroli, a uns 4 graus na direção nordeste (ponteiro do relógio nas 4 horas), vê-se uma formação de estrelas fracas, que parece um “L” inclinado, invertido no espelho: a galáxia está a um grau ao norte desse vértice.
Seu aspecto ao telescópio pode ser conferido pelo Starry Night conforme a figura abaixo.
Apesar dos 6 graus que separam a M63 da M51 no céu, ao que tudo indica fazem parte de um mesmo grupo, a 37 milhões de anos-luz da Via-Láctea.
OBS: Por uma displicência lamentável de nossa parte, esquecemos de observar a galáxia M94 , na mesma constelação das duas galáxias listadas acima!
Grupos M66 e M96 (Leo): Tanto o grupo de galáxias M66, M65, NGC3628, conhecido como “Leo Triplet”, como M96, M95, conhecido como “Leo I”, e que inclui também a M105, já haviam sido observados em atividades do CACEP, porém nunca com tanta nitidez.
Ao que tudo indica, os dois grupos estão fisicamente relacionados, distando 35 milhões de anos-luz da Via-Láctea. A localização de ambos no céu pode ser vista no esquema abaixo.
O aspecto no campo do telescópio é bem parecido com o das imagens abaixo do Starry Night.
A aparência acentuadamente alongada da NGC3628 contrastava nitidamente com a M66 e a M65, mais arredondadas!
M104 (“Sombrero”) e NGC5128 (“Centauro A”): Ambas já tinham sido observadas com grande êxito em atividades anteriores, e têm em comum na sua aparência um cinturão escuro que parece dividir em duas partes o corpo brilhante da galáxia. O cinturão é bem mais estreito na M104, galáxia espiralada a 50 milhões de anos-luz, avistada por nós quase segundo seu plano equatorial. A NGC5128 é localizável ao binóculo, e tem formato elíptico, mais raro. Há muitas controvérsias quanto à sua distância da Via-Láctea. Podem ser conferidos abaixo os esquemas de sua localização.
Abaixo temos duas simulações feitas com o Starry Night
OBS: Infelizmente, o céu encobriu antes que as galáxias M31 (Andromeda), M33 (Triangulum) e NGC253 (Sculptor) aparecessem acima do horizonte.
NEBULOSAS
Além da nebulosa escura Saco de Carvão, mencionada anteriormente entre os objetos visíveis a olho nu, foram observadas ao telescópio três nebulosas.
As nebulosas são enormes nuvens de gás e poeira dentro de galáxias, sendo que a maioria das nebulosas visíveis da Terra pertencem à própria Via-Láctea. Existem diversos tipos: No caso em que a nuvem, ao receber radiação de estrelas próximas, irradia outros comprimentos de onda, a nebulosa é chamada “de emissão”, como a M42 de Órion. Se a radiação das estrelas é simplesmente refletida, ou seja, sem alterar o comprimento de onda, a nebulosa é chamada “de reflexão”, como a que envolve as Plêiades (M45, Taurus). Numa nebulosa “escura”, essa radiação é quase totalmente absorvida, por isso ela é vista da Terra como um contorno negro que esconde os objetos que estão por trás. Restos de supernova também criam nebulosas difusas, que brilham devido à energia expelida na explosão, como a M1 de Taurus. Finalmente, uma nebulosa é dita “planetária” quando assume um formato aproximadamente esférico, sendo remanescente da morte de uma estrela comum, como a M57 da Lyra.
Seguem algumas informações referentes às nebulosas observadas; outros detalhes podem ser encontrados nos relatórios das atividades anteriores do CACEP, com imagens diferentes destas.
M17 (Sagittarius, nebulosa “Ômega”, de emissão, a 5 mil anos-luz)
NGC2070 (constelação do Dorado, chamada “Tarântula”, a 180 mil anos-luz, situada na Grande Nuvem de Magalhães, nebulosa de emissão). Trata-se da maior nebulosa extra-galáctica visível a olho nu (se bem que nesta ocasião só apareceu realmente ao binóculo). A imagem inferior importada de rede mostra a Grande Nuvem com essa nebulosa; na hora da observação, o conjunto estava rotacionado de 90 graus no sentido horário, com a Tarântula no canto superior direito do campo do binóculo.
NGC3372 (Nebulosa da Eta Carinae, mista de emissão e reflexão) , um riquíssimo agrupamento, a 10 mil anos-luz, que inclui diferentes estruturas formando um complexo de massas brilhantes e escuras.
O campo do binóculo parece muito com a simulação do Starry Night mostrada abaixo.
OBS: Infelizmente não foi possível observar nebulosas planetárias, por exemplo as que se ergueram no céu após as 23 horas, como a M57 (“Anel”, Lyra), M27 (“Halteres”, Vulpecula) , e NGC7293 (“Hélice”, Aquarius), devido ao tempo já estar nublado.
AGLOMERADOS GLOBULARES
NGC6388, NGC6352 e NGC6397 (Ara): Ara (“altar”) é uma constelação austral, ao sul da cauda de Scorpius, na qual foram localizados os três objetos listados.
Aglomerados globulares levam esse nome por apresentarem simetria esférica; estão muito distantes de nós, fora do disco da Via-Láctea, orbitando em torno do seu núcleo, e são compostos por centenas de milhares de estrelas. Ao binóculo, mostram uma textura leitosa, parecendo uma bola de gás (na realidade, é muito fácil confundi-los com cometas sem cauda). Com um bom telescópio, pode-se apreciar sua estrutura, pois aparecem “resolvidos” em estrelas, exibindo uma textura granular, que se torna menos densa na periferia. Confira abaixo as simulações do Starry Night.
M3 (Canes Venatici), M5 (Serpens), M10 e M12 (Ophiuccus); M13 (Hércules): Informações, esquemas de localização, e imagens, podem ser encontrados em relatórios anteriores.
NGC104 (ou “47 Tucana”) e NGC5139 (ou “Ômega Centauri”): Também já observados anteriormente, especialmente nessa noite a visão ao telescópio do Ômega Centauri, um dos aglomerados globulares mais próximos, a 17 mil anos-luz, com magnitude 3,7 (o mais brilhante do céu). A simulação do Starry Night se parece muito com o que pudemos apreciar.
Infelizmente, o 47 Tucana, um pouco menos brilhante que o Ômega Centauri (magnitude 5,0) estava ainda muito baixo no horizonte quando o céu encobriu.
AGLOMERADOS ABERTOS
M25, M23, M21, M16, M11, M8, M7, M6, M4: A região do céu próxima do núcleo da Via-Láctea (Sagittarius, Ophiuccus, Serpens, Scorpius etc) é riquíssima nesses objetos. Se distinguem muito dos aglomerados globulares, por tratar-se de agrupamentos estelares muito mais próximos, pertencentes ao disco da nossa própria galáxia. São compostos por centenas de estrelas, e no aspecto que têm ao telescópio, suas estrelas mais brilhantes parecem compor uma pequena
constelação; alguns apresentam uma nebulosidade envolvendo as estrelas componentes. A maioria dos objetos listados já foi observada em atividades anteriores (na realidade, o objeto atualmente catalogado como M8 é a nebulosa de emissão da “Lagoa”, e o aglomerado aberto observado é o NGC6530, que aparece na porção leste do campo).
NGC4755(“Caixa de Jóias”), M44(“Presépio”), M67, M47, M46, M41: Aglomerados abertos em outras constelações, também já observados várias vezes em atividades anteriores.
Conclusão
Apesar de um tempo relativamente escasso para proceder as observações (4 horas e meia), e no baixo número de participantes (4), a atividade foi muito bem aproveitada. Pode-se notar uma evolução crescente na sistemática de localização dos objetos (principalmente da parte do Lucas). Algo muito discutido e explorado ao longo das horas é o movimento aparente do céu estrelado, da eclíptica do sistema solar, e do equador da Via-Láctea. Também são continuamente levantados pontos de dúvida quanto ao princípio ótico dos instrumentos. Outro aspecto interessante é que, com o exercício recorrente de observações, nosso sistema visual vai sendo aperfeiçoado na interpretação da imagem que o campo do instrumento nos mostra. Além disso, o ambiente amigável de cooperação durante a atividade fortalece os vínculos entre os membros do clube, assegurando que o CACEP continue um grupo coeso, com muitas décadas de atividade pela frente!
Relatório feito por:
- Mário Sérgio Teixeira de Freitas (redator)
- Lucas
- Guilherme